Por Francis Ivanovich.
Criados numa sociedade machista, desde pequenos os homens são ensinados a engolir o choro. “Homem não chora”, diziam-me na intenção de me ensinar que o choro é sinal de fraqueza. Até hoje, quando a sociedade passa por profundas transformações de comportamento, raramente você verá um homem chorando pelas ruas. Sempre fiquei admirado como as mulheres chorando em qualquer lugar. Tenho o maior respeito por elas ao ve-las emocionadas no meio da rua, vivenciando sua dor, convertida em lágrimas, sem se importar com nada.
Muitas vezes tive de engolir o choro – não gosto nem de lembrar, dá vontade de chorar – em diversas situações e muitas vezes só pude exercer o direito de chorar quando estava sob o efeito de uma dose de de álcool ou estar sozinho em meu quarto. É bom chorar. Faz bem ao corpo e a alma. Acredito que muitos atos de violência masculina seriam evitados se o homem chorasse, ao invés de usar a força.
Recentemente Lula chorou. A emoção transbordou no ex-presidente ao reencontrar-se com Hilton Acioli, em Natal, Rio Grande do Norte. Aciolie é o autor da música composta para a campanha presidencial de 1989, “Lula lá”. Lula, aos prantos, afirmou que até hoje se emociona ao ouvir a música. Considero oportuna emoção de Lula para analisar o atual governo por um outro ponto de vista, ser um governo que não chora. O atual governo do Brasil é doentio, desumano.
Como é possível não chorar por mais de 576 mil vidas? (Este número atualizo a cada novo texto que escrevo). Jamais vimos o presidente da República verter uma lágrima sequer pelas vítimas. Pelo contrário, sorriu, fez piada, deboche, escárnio. Ontem, 26 de agosto, os Presidente dos EUA, John Biden chorou. Não conseguiu conter a emoção pela morte de soldados americanos no atentado terrorista no aeroporto de Cabul.
Biden solicitou um minuto de silêncio aos jornalistas presentes na coletiva. Teatro político? Sim, mas Biden realmente estava emocionado porque sabia que sobre seus ombros pesava a morte de meninos americanos vestidos de soldados que poderiam ser seus netos. Isto é humano, compreensível.
O que não é possível compreender é um governo como este. Aliás, é possível sim. A Psicologia explica. (Infelizmente não concluí meu curso de Psicologia, após três períodos). Há neste governo pessoas com sérios problemas psicológicos, pessoas que deveriam estar em tratamento sério, terapia intensiva para suas cabeças tão confusas. Lamentavelmente, há claros sinais de psicopatia neste governo, em vários escalões.
Quando vejo um líder como Lula chorando por causa de uma canção, um homem que já passou por tantas dificuldades na vida, ter enfrentado a cadeia e a perseguição criminosa e farsante que tentou destruir sua alma, isto me enche de esperança. Nesta pessoa que eu confio. E confio porque sinto que estou diante de um semelhante, e não de um falso Deus; ou de uma pessoa doente que carrega no íntimo questões que não foram resolvidas.
Para o criador da Psicanalise, Sigmundo Freud a “maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura”.
Ao ler o que Freud escreveu sobre a maldade, fica evidente de que Lula é um homem que ultrapassou o estágio da vingança e superou seus conflitos internos, que não está mais no estágio da barbárie. É por isso que Lula chora, enquanto o outro fingi rir e adora armas.
*Francis Ivanovich é jornalista, diretor de teatro e cinema, autor.