Quem não sabe ouvir, não sabe dialogar

*Antonio Lopes Cordeiro (Toni):

Há uma visão de mundo que vamos construindo a partir das nossas vivências, nutridas por valores momentâneos ou princípios construídos ao longo da vida com as nossas crenças, pensamento crítico ou posições ideológicas. Quem não sabe ouvir, não sabe dialogar. Apenas impõe sua forma de pensar e agir.

Diante de um tema tão complexo, expor minhas inquietudes ao imaginar a base de um mandato, seja de que cargo for, de um partido ou mesmo da sociedade como “massa”, pois na minha estreita visão isso tanto caracteriza estes setores da sociedade como algo que pode ser usado para qualquer fim, dar sustentação ao que  vem de cima da base na pirâmide social ou ainda nos distancia de apostarmos em formação e organização como métodos para uma possível mudança de sociedade e de valores.

Enquanto a formação liberta e a organização nos mostra os caminhos de enfrentamento, o senso comum de massas aliena, aprisiona e torna grande parte da sociedade presa fácil para qualquer situação ou ação.

Ao falar de “massas”, como comportamento ou como um fenômeno humano poderia caminhar por várias linhas de estudo e análise, desde a Psicologia das Multidões de Gustave Le Bon, à Teoria de Freud do Comportamento de Massas, que afirma que quando uma pessoa se torna parte de uma multidão, sua mente inconsciente é liberta e entre outras variáveis de comportamento ele tende a seguir o líder carismático da massa.

Le Bon compreendia que a psicologia da multidão era necessária para uma compreensão adequada da história e da natureza humana, quando afirma:

Em certas horas da história, meia dúzia de homens pode constituir uma multidão psicológica, ao passo que centenas de indivíduos reunidos acidentalmente podem não constituí-la. Por outro lado, um povo inteiro, sem que haja aglomeração visível, às vezes torna-se multidão sobre ação desta ou daquela influência. (GUSTAVE LE BON, p. 30).

Porém, no sentido de buscar sustentação para minhas inquietudes, usarei o conceito de dois autores da comunicação, que conceituam “massa”:

Massa: grande grupo de indivíduos compreendido sempre pela base do menor coeficiente de organização, interação, produção enunciativa consciente e coesão possível, ou seja, pela menor quantidade de pontos comuns identificáveis entre os indivíduos do grupo, o que confere ao “objeto” representado pelo termo um caráter indistinto, uma falta de clareza que acaba sendo sua principal característica. (VILALBA, 2006, p. 119).

Massa. O termo descreve um vasto, mas amorfo conjunto de indivíduos com comportamentos semelhantes, sob influência externa, e que são vistos pelos seus possíveis manipuladores como desprovidos de identidade própria, formas de organização ou de poder, autonomia, integridade ou determinação pessoal. Representa uma visão da audiência dos media [sic]. (MCQUAIL, 2003, p.506).

Ao caracterizarmos, aceitarmos ou concordarmos de que é necessário um coletivo de massas para tocarmos o projeto que defendemos, comungamos dos mesmos ideais do pensamento estratégico da direita de que o povo só serve para cumprir determinados ritos ou tarefas pré-determinadas e servir a quem mais lhe seduziu.

Precisamos ter a coragem de romper com mais essa engenharia do sistema, que interfere diretamente no processo de mudança da sociedade que temos para a sociedade que queremos, intervindo nos setores caracterizados como “massas”, oferecendo formação com base na realidade local, ajudando no processo de organização coletiva e escolhendo alguém para votar que respeite o projeto construído a várias mãos ou que saia dele e não em alguém que se acha tão importante e sabido ou sabida, a ponto de se considerar insubstituível.

Caso o que escrevo faça sentido para você, bem vindo e bem vinda à desconstrução das massas de manobras e a construção de novos arranjos coletivos rumo a uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

*Antonio Lopes Cordeiro (Toni), Estatístico e pesquisador em Gestão Social

Referências:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 165 p.

LE BOM, Gustave. Psicologia das Multidões. Tradução de Ivone Moura Delraux. Título original PSYCHOLOGIE DES FOULES © Presses Universitaires de France, 1895 © Edições Roger Delraux, 198O, para a língua portuguesa. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2016/03/le-bon-gustave-psicologia-das-multidc3b5es.pdf. Acesso em 17 de junho de 2021.

MCQUAIL, D. Teoria da Comunicação de Massas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

VILALBA, R. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006.

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