* Por Antonio Lopes Cordeiro (Toni): Ontem, dia 19 de setembro de 2021, Paulo Freire, uma das figuras humanas mais lidas em todo mundo, completaria 100 anos. Uma história de lutas, de vivências e de amor pela causa. Nem sei o que dizer do encontro que tive com ele em 1989 e o desfio deixado para gestar um mutirão habitacional em São Bernardo do Campo em forma de um grande carrossel. Algo que se tornou realidade no planejamento da Prefeitura de Artur Nogueira/SP com o Grupo Gestor de Integração e Planeamento e no primeiro Curso de Pós-Graduação e laboratório de Gestão Pública Social no UNASP de Engenheiro Coelho.
A frase do título vem da resposta de Paulo Freire no livro “Essa escola chamada vida”, ao ser perguntado qual era o seu sonho. Uma entrevista feita pelo Jornalista Ricardo Kotscho com Frei Beto e Paulo Freire. Uma obra prima. Algo tão belo que ao ler o livro nos remete a uma reflexão permanente sobre a vida que temos e a vida que sonhamos ter, sobre qual é a nossa missão em vida e o quanto estamos comprometidos com ela.
A utopia de mudar essa sociedade de desiguais, de injustiças e violências de toda ordem, para uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, acaba se tornando uma missão de vida para quem dela se nutre e vai preenchendo nosso imaginário e nos fazendo mirar no futuro em busca de quem estará conosco nessa caminhada. Diria até que serve em muitas situações como a própria razão das nossas existências.
Dizem os sábios que quando desejamos muito que algo aconteça e que se encontra muito distante de acontecer, precisamos mirar no horizonte ao por do sol para buscarmos sinais e conversarmos diariamente com nosso imaginário na esperança de sonharmos ao dormir, como se estivéssemos em pleno estado do desejo. Enquanto isso os poetas sugerem que a cada “não” formemos um verso, para quando o “sim” chegar à poesia está pronta, ou quem sabe uma canção que fale de amor pela vida e transborde para quem caminha conosco pelas diversas veredas da vida, como na época da ditadura.

Já os pensadores comprometidos com uma causa nos faz um alerta. Os sonhos, diferentes das fantasias que apenas nos levam ao abstrato, requerem de nós compromissos para que possam ter a possibilidade de acontecerem. Além disso, como alimentar os sonhos se não for através das utopias? Uma utopia não pode ser confundida com uma fantasia, pois nasce da esperança armazenada em nossos corações e nos vai levando vida afora até a última mensagem deixada para as nossas histórias de vida.
Que sociedade de iguais é essa que almejamos? Como pensar nela se uma grande parte da sociedade nem sabe o que estamos falando e outra parte luta contra o que pensamos? O que fazer em plenas trevas? Como reinventar uma sociedade de baixo para cima?
Antes de qualquer pensamento ou ação concreta ou abstrata, vale lembrar que mudar a sociedade, antes mesmo de ser um ato político e revolucionário, é um ato de amor. Amor pela causa. Amor por quem não enxerga o outro lado da rua e amor pelo que ainda vai nascer. É um ato pela vida de milhares de pessoas e um pacto com a liberdade. Mudar a sociedade só nos importa se tivermos condições plenas de pautar todo processo através da solidariedade por quem precisa, que na prática é a maior das ideologias.
Ser de esquerda e ser revolucionário ou ser revolucionária, não é somente fazer parte de um partido ou de um grupo de esquerda e sair gritando “Fora Bolsonaro!” e sim, se revolucionar, amar de forma radical, agir com sinceridade para o mundo e criar condições das pessoas acreditarem que a verdadeira revolução começa no nosso universo, transborda para nossos meios e invade a sociedade com o que plantamos, regamos, ajudamos a crescer e virou parte dos sonhos que um dia acreditamos que será.
Esse ato revolucionário está na forma de pensar e agir e é antes de tudo ter a coragem de fazer uma catarse interior e por pra fora tudo que o sistema nos iludiu e nos fez acreditar e assumir que somente a luta concreta, de forma coletiva, contra todas as formas de discriminação, preconceitos e por uma nova sociedade reinventada de baixo para cima nos fará sujeitos e sujeitas da historia, pois a verdadeira revolução está no ato de servir.
*Antonio Lopes Cordeiro (Toni) é Estatístico e Pesquisador em Gestão Social.