O sono dos justos

*Por Francis Ivanovich:

Em recente encontro virtual promovido pelo Grupo de Trabalho da Cultura, pertencente ao Núcleo de Estudos em Políticas Públicas do Rio de Janeiro – NEPP-Rio, que contou com a ativa participação do ex-ministro da cultura do Governo Lula, Juca Ferreira, ficou evidente que o Estado do Rio de Janeiro urge por uma revolução cultural e social.


Ouvi atentamente o baiano com o seu lindo sotaque que nos remete a nomes desse estado tão privilegiado, berço de Jorge Amado, João Ubaldo, Glauber, Gil, Caetano e tantos outros mestres em sua arte. Juca nos alerta que a Cultura é um direito e que deve ter um papel que vise a educação política do nosso povo, ter um caráter civilizatório.


Infelizmente os trabalhadores da cultura, especialmente da nossa esquerda, estão adormecidos. Antes que me batam, lembro que o estado de sonolência significa a possibilidade do despertar. Portanto, compreendo perfeitamente esse adormecimento, fruto de um grande cansaço, no entanto, está mais do que na hora de nos levantar contra a opressão do sono e caminharmos na direção do sonho.

Na reunião, que teve mais um caráter de roda de conversa, Juca Ferreira demonstrou toda a experiência, vitalidade e conhecimento sobre os diversos aspectos da Cultura, entretanto o que mais me chamou a atenção foi sua fala quando afirmou que o Rio de Janeiro deve ter um projeto nacional de reconstrução, devido à sua força simbólica para o Brasil.


De fato, o Rio de Janeiro é um caso especial dentro da realidade brasileira. Há tanto a fazer aqui que não é raro provocar uma certa paralisia nos diversos agentes que atuam nos seus respectivos segmentos, em nosso caso, o da cultura. A pandemia agravou ainda mais a precarização – palavra em moda – da vida dos trabalhadores culturais, produzindo apatia.


Prova desse cansaço, dessa sonolência gerada pela fadiga, é o que ocorre em alguns dos grupos de trabalho dedicados ao diagnóstico sobre Estado do Rio de Janeiro. Grupos de trabalho que iniciam com cerca de 70 pessoas, como o da cultura, com o passar dos encontros virtuais, vão minguando de tal maneira que, ao final, não contam com mais de 10 integrantes.


Compreendemos tal cansaço, no entanto, não há saída, precisamos despertar, tomar um café e nos unirmos de todas as maneiras, pois estamos no mesmo barco cultural. Sem falar que estamos sendo massacrados dia após dia por esse desgoverno fascista que odeia literalmente a cultura, que para nossa infelicidade tem o Rio de Janeiro como nascedouro-matadouro.


Até o novo Plano Nacional de Cultura de Cultura – PNC, o incompetente executivo tenta impedir a implementação; a Lei Paulo Gustavo está empacada no Senado graças às intervenções do lamentável secretário de Cultura, Mário Frias, uma verdadeira gelada para o setor. Os trabalhadores da cultura talvez estejam vivendo um dos piores momentos na recente história brasileira.


Ao final do encontro, que foi transmitido pela Internet, o ex-ministro se demonstrou esperançoso e se prontificou a realizar novo diálogo visando a construção de propostas que revitalizem o Rio, dê voz a Baixada Fluminense – sempre esquecida – e acolha as diversas lutas sociais.

Fiquei calado durante toda a reunião, ouvindo atentamente cada companheiro. Ao desligar o computador, pensei sobre o nosso cansaço, esse sono intranquilo, nossa vida tão difícil na Cultura.

Entendi que não basta criticar, temos de fazer um esforço conjunto para construir as propostas que possibilitem um novo amanhecer no Rio de Janeiro e no Brasil. Depois dessa luta, aí sim, poderemos desfrutar o sono dos justos.

*Francis Ivanovich é jornalista, cineasta, diretor de teatro, cinema, editor do Blog da Resistência Socialista do Rio de Janeiro e integrante do Grupo de Trabalho de Cultura do NEPP-Rio. (foto Site PT)

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