Um documentário sem clemência

Por Francis Ivanovich:

O documentário Codinome Clemente, de Isa Albuquerque, nos apresenta um período da história brasileira que, volta e meia, é romantizado, mas que neste filme, a cineasta, ao dar voz a um dos seus principais personagens, Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Clemente, expõe de maneira nua e crua, uma guerra sangrenta e dolorosa que afetou a vida de todo o povo brasileiro e a democracia.

Isa Albuquerque teve o desafio de realizar um documentário, cujo personagem é de uma força imbatível, homem que não se furtou a revelar detalhes de ações na luta armada contra a ditadura militar, à frente da Ação Libertadora Nacional – ALN. Os relatos feitos por Clemente são tão explicítos, que somos transportados à ação, num processo que julgo o grande mérito do filme.

Isa Albuquerque não se mostra no filme e nem privilegia o adereço fílmico, optando por centrar seu documentário na escuta deste personagem que narra sem clemência. Como nos lembra Paul Zumthor, o linguísta suiço, “a voz tem qualidades como tom, timbre, amplitude, altura, registro, as quais possuem valores simbólicos”.

Ao privilegiar a fala de Clemente, contar sua dolorosa história, nos revela o humano no personagem, que ficaria enfrequecido se fosse submetido ao formalismo de uma preparação estética, o que certamente retiraria de Clemente toda espontaneidade e emoção.

O documentário de Isa Albuquerque presta importante serviço à história política brasileira, e certamente será objeto de estudo e pesquisa por muito tempo.

Imperdível.

*Francis Ivanovich é jornalista, cineasta e editor deste blog RSRJ, tendência interna do PT.

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