*Por Nicholas Manhães:
Há alguns meses cresce e se fortalece a hipótese de que Geraldo Alckmin, político com história vinculada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e adversário histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) possa vir a compor a vice-presidência da República na chapa de Lula em 2022. A partir de tal possibilidade, que já é tratada por lideranças petistas como real, estourou-se um debate acerca de tal estratégia, com amplos militantes e líderes políticos defendendo a proposta, e outras rechaçando-a duramente. Se Alckmin virá mesmo a ser vice na chapa de Lula, só o futuro nos dirá, porém, deve-se questionar desde já as razões que impulsionam tal possibilidade.
Aqueles que defendem tal proposta acreditam que a figura de Alckmin é produtiva por quatro razões centrais: acalma o mercado (em uma espécie de nova carta ao povo brasileiro); conquista um eleitorado à direita, mas anti-bolsonarista; dá poder de governabilidade ao PT e ao presidente Lula; facilita o caminho de Fernando Haddad ao governo de São Paulo em 2022. A primeira razão, considero desnecessária, acredito que a posição petista deva ser de enfrentamento ao mercado, não de arrefecimento, mas as três últimas são importantes e precisam ser analisadas.
Carece de um trabalho de pesquisa maior, mas até o momento nada indica que os eleitores de Alckmin em São Paulo migrarão para Lula, uma vez que esse eleitorado se aglutinou em torno do ex-tucano baseado em seu programa abertamente neoliberal e privatista, programa este que não será aplicado em um futuro governo petista, sem contar o preconceito destes setores com uma candidatura da classe trabalhadora, nordestina e criada no chão da fábrica. Além disso, o que tem se mostrado entre a militância progressista é um pé no freio em caso de ter que lidar com as contradições de bancar um adversário histórico das camadas populares na vice.
A governabilidade, talvez a razão maior, é de extrema importância e precisa ser levada em consideração, já que foi o fio central para a escolha de Michel Temer para vice da presidenta Dilma. O que ocorreu naquele momento foi um conluio da direita neoliberal que brecou o governo Dilma e cujo resultado nós infelizmente já sabemos qual foi. A governabilidade pode ser alcançada com outros setores do centro político e do empresariado, setores estes que não estariam enraizados nos meios políticos da burguesia e das elites econômicas e que, portanto, teriam um poder golpista menor. Também há a possibilidade de conseguir governabilidade através da mobilização popular, possibilidade esta mais condizente com um partido com as características do PT, mas que já é vista com maus olhos por setores do petismo já há algumas décadas.
Já a corrida de Haddad para o governo de São Paulo talvez seja o fator que mais dificulta a entrada de Alckmin na vice, uma vez que, segundo veículos de comunicação (e sabemos que estes são muitas vezes nada confiáveis) há um impasse quanto a relação com Márcio França, aliado histórico de Alckmin e dirigente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que também não parece querer abrir mão de sua candidatura.
Essas são as razões pelas quais setores do petismo defendem esta proposta, e fecham os olhos para o passado recente, ignoram que tal estratégia já foi tentada com Michel Temer, e cujos resultados tenebrosos estamos colhendo até hoje. No entanto, a pergunta que não quer calar é: Porque Alckmin, com amplas chances de ser novamente governador em SP, aceitaria abdicar de tal candidatura e de sua ideologia abertamente neoliberal e pró-Estados Unidos, para se unir a seu adversário histórico, abdicando de seu programa e se invisibilizando atrás de uma figura com a magnitude da de Lula?
Essa pergunta é central para que nós não soframos novamente com a ingenuidade que nos levou a ser golpeados em 2016. Seria Alckmin um agente da burguesia, como foi Temer, buscando enfraquecer Lula e arquitetar uma manobra (golpe!) institucional contra o candidato do PT assim que surgir uma possibilidade? A história recente nos mostra que isso não é teoria da conspiração, é uma possibilidade concreta, justamente por já ter acontecido.
Minha opinião pessoal é de que, no mínimo, o ex-tucano não é confiável. E acredito que grande parte da militância petista e progressista também veja desta forma. Portanto, concluo esta linha de pensamento com um pedido: Não nos deixemos abater com tal possibilidade. Lutemos contra ela, no debate, mas caso percamos e ela venha a se concretizar, tenhamos a perspectiva de que é nosso papel defender um governo da classe trabalhadora, como será o de Lula. Se lideranças políticas não conseguem ter essa visão, que nós tenhamos e, caso novas tentativas golpistas apareçam, tenhamos força e disposição para defender o governo e vencer a burguesia nas ruas, como fez a classe trabalhadora venezuelana e boliviana.
O PT é o mais importante instrumento de luta da classe trabalhadora brasileira, e, desta forma, deve ser disputado por dentro e defendido, mesmo que opções majoritárias, por vezes equivocadas, sejam postas em prática. Defender o PT e o futuro governo Lula, com ou sem Alckmin, é dever de todos aqueles que lutam por justiça social e pelo fim da opressão!
*Nicholas Manhães, Secretário da Juventude do PT de Campos dos Goytacazes. (Foto site do PSDB)