Letícia Florêncio: enfrentamento do racismo estrutural e a xenofobia

Por Letícia Florêncio:

O assassinato do jovem congolês, Moïse Mugenyi, não é um caso isolado e não pode ser banalizado, tratado como mais uma morte causada em uma típica briga de boteco, no caso, um trailer a beira mar, na Barra da Tijuca. Trata-se de mais uma tragédia causada por dois fatores que carregam histórias de mortes onde quer que existam, e que são alimentados pelas estruturas que compõem a nossa sociedade, e consequentemente, as instituições: o racismo e a xenofobia.

Não raro, temos notícias de morte de pessoas negras perpetrada por instituições públicas ou privadas, desestruturando completamente as famílias negras. As oportunidades dadas aqui aos/às refugiados/as negros/as, oriundo de diversos países do Continente Áfricano, é zero. Estão subempregadas ou desempregadas. E pouco ou nada se influi para mudar isso.

Além disso, esse é mais um assassinato fruto da violência que impera em nosso estado pela falta de políticas públicas preventivas e efetivas de combate ao poder paralelo. Este mesmo poder paralelo, que se sente muito à vontade para cometer suas barbaridades, suas crueldades, como o caso do Moïse, com a certeza absoluta da impunidade.A população não aguenta mais a violência que recai com muito mais intensidade sobre os corpos da juventude negra, do/a pobre trabalhadora, do/a moradora da periferia, que teme (convive) em seu cotidiano com a extorsão realizada pelas milícias, pelo tráfico e pela ausência do estado.

Moïse era um jovem trabalhador que prestava serviços nos trailers da orla, que assim como muitos jovens no verão, ocupam as areias das praias do Rio de Janeiro, não para se divertir, banhar-se ou desfrutar dos raios de sol, mas com objetivo de garantir sua sobrevivência e o sustento de suas famílias.

Duzentos reais, foi o valor que custou a vida de Moïse, valor esse que lhe era devido por seus serviços prestados ao proprietário do Trailer Tropicália. É dolorido demais saber que sua vida foi brutal e covardemente ceifada, com golpes de taco de Baseball, desferidos por três “colaboradores” dos donos do trailer, durante cerca de quinze minutos. É inimaginável!!

Diante disso, não basta identificar e prender os culpados, é necessário que as autoridades sejam mais contundentes na apuração de fatos como esses. É urgente por parte dos órgãos competentes junto com a sociedade civil, a construção de uma política de segurança pública inteligente que culmine no fim desse poder paralelo que explora água, gás, luz, transporte e cobra taxas de segurança de moradores das periferias.

É urgente também criar políticas de proteção e oportunidades aos povos imigrantes oriundos dos países em conflitos étnicos. É urgente fortalecer e ampliar as políticas de combate ao racismo dentro das instituições públicas e privadas e em toda a sociedade.

A violência não pode continuar sendo interpretada como uma mera questão cultural. É imperativo o envolvimento de toda sociedade no enfrentamento do racismo estrutural, através de ações socioeducativas, de promoção da igualdade racial e combate ao racismo.


LETÍCIA FLORÊNCIO, Executiva Estadual PTRJ.

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