Por Letícia Florêncio:
Ao tomar conhecimento que em fevereiro de 2022 foi registrado o maior índice mensal de feminicídios no estado do Rio desde outubro de 2016, quando os casos começaram a ser contabilizados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), fiquei muito preocupada com esta situação. Não posso ficar indiferente ao absurdo de que uma mulher é morta a cada 37 horas, no estado, ainda mais sendo eu, uma mulher periférica, moradora da Baixada Fluminense, ciente que minha região lidera as estatísticas negativas dos indicadores sociais, onde as políticas de prevenção e as estruturas de enfrentamento a violência carecem demais de atenção e investimento.
Por isso, convido todas e todos, a refletirem comigo sobre esse processo de morte, buscando somar nossas vozes, à de milhares de mulheres que lutam por justiça, e em nome de todas essas mulheres que tombaram, tentando se livrar das amarras do machismo.
Anualmente, no estado foram 68 casos em 2017, 71 em 2018, 85 em 2019, 78 em 2020 e 85 em 2021. Em tentativas de feminicídio, 2019 também foi o ano com maior registro, com 334 casos no Rio. As tentativas, no entanto, vinham diminuindo nos últimos três anos. Foram 270 em 2020 e 263 em 2021.
A violência nas relações entre parceiros (as), expressa dinâmicas de afeto e poder e denunciam a presença de relações de subordinação e dominação. Constitui um dos modus operandi dos homens sob o regime do patriarcado, agredir a mulher, mantendo-as sob seu controle. As mulheres, por sua vez, deste modo, vão ocupando posições subordinada. É um fenômeno social, um fato social, articulado pelo patriarcado, e também articulado pelo racismo e pela questão de classe. Resultado disso hoje, é que todos os dias, duas mulheres perdem suas vidas para o machismo. Em muitos casos, filhos/as filhas e outros familiares tombam junto com a mulher.
Para uma mulher, com ou sem consciência da sua humanidade, da sua capacidade e, portanto, dos seus direitos, a vida sob a égide do patriarcado é hostil, é agressiva, insegura e triste. Desde a sua vida infantil. Uma das faces mais cruéis desse domínio patriarcal, é imprimir a característica de generalidade, tornando esse domínio aceitável em toda as sociedades, fazendo-as cúmplices e ratificadora dessa posição que subjuga a mulher, outra, é forçar a naturalização das formas de violências desde muito cedo. É um aprendizado coletivo, contínuo e fiscalizado, de todas as sociedades cujo domínio é masculino.
São reflexões que nos dão alguns sinais sobre a musculatura desse fato social, que é a violência doméstica contra a mulher. E, enquanto sociedade civil, precisamos juntar isso às ações urgentes de investimento na visibilidade e difusão do tema, nos fortalecimentos nos movimentos de resistências organizados pelas mulheres, ampliando o leque de parcerias para apoiar as iniciativas e proteger as defensoras dos direitos humanos das mulheres.
Existem várias leis de proteção às mulheres (Foi preciso criar!!!!), organizações que atuam com a pauta da defesa dos direitos das mulheres. Milhares de defensoras e militantes se organizam a todo o tempo para resistir e combater contra esse patriarcado. Precisamos estar juntes.
Como defensora dos direitos das Mulheres, penso que é urgente também, uma forte pressão sobre o atual governo que, diante de tantas constatações, se coloca no caminho oposto da defesa da vida das mulheres, legitimando as violações e servindo aos interesses do patriarcado, ao diminuir ainda mais o pouco investimento financeiro da pasta das mulheres, colocando em curso um desmonte das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres. Ou seja, a luta pela vida das mulheres, precisa, assim como o patriarcado, ficar suas raízes em todo e qualquer segmento dessa nossa estrutura social.
“Luto por mim, é por você, e é por todas a mulheres tombadas pelo patriarcado, com o aval da sociedade”. (Letícia Florêncio)
Letícia Florêncio é bióloga, educadora popular, da executiva do PTRJ, integrante do coletivo de Mulheres do PT e pré-candidata a deputada estadual pelo Rio de Janeiro.