Por BBC:
Quatro dias após o presidente Jair Bolsonaro dizer durante o debate presidencial de domingo (28/08) que seu colega chileno Gabriel Boric tinha ateado fogo no metrô chileno, a relação entre os dois líderes ficou ainda mais distante.
Em declarações à revista “Time”, publicada nesta quarta-feira (31), Boric disse que foi “esperança” ver o manifesto pela democracia no Brasil e que a América Latina deveria se unir em caso de o resultado eleitoral não ser aceito, evitando assim um “golpe” como o que, na sua visão, ocorreu na Bolívia em 2020.
A pergunta da Time foi: “Neste momento, se fala muito sobre o que acontecerá no Brasil, caso o presidente Jair Bolsonaro não aceite os resultados das eleições de outubro. O que o senhor faria para apoiar a democracia brasileira, se isso acontecesse?”.
Boric respondeu: “Gerou esperanças ver a ‘carta de São Paulo’ que teve um milhão de assinaturas a favor da democracia. Foi um sinal potente da sociedade civil brasileira. Se chegar a ocorrer uma tentativa, como ocorreu na Bolívia, quando acusaram fraude que não houve, e acabou sendo validado um golpe de Estado, a América Latina tem que reagir em conjunto para colaborar para impedi-lo”.
A declaração de Bolsonaro sobre Boric foi negada pela ministra chilena das Relações Exteriores, Antonia Urrejola, que convocou o embaixador do Brasil em Santiago, Paulo Roberto Soares Pacheco, no dia seguinte ao debate, num sinal de insatisfação diplomática. Urrejola definiu os comentários como “falsos” e “gravíssimos”.
Na terça-feira, Bolsonaro ratificou suas afirmações, ao dizer que “falou a verdade” sobre o presidente chileno, durante sabatina organizada pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs).
“O presidente chileno agora acabou de chamar seu embaixador. É a maneira que ele tem de demonstrar insatisfação comigo. Se exagerei ou não, não deixei de falar a verdade. O cidadão lá (Boric) teve apoio do cara (em referência a Lula) aqui do Brasil”, afirmou, segundo reproduzido pela imprensa brasileira.
A revista deu destaque a Boric, de 36 anos, em sua capa com o título “The new guard” (“A nova guarda”, em tradução livre).